O "ouro branco" chega ao
Sertão!
Até
a primeira metade do século XIX, Alagoas já como Província, a economia estava
centralizada no Litoral e zona da Mata, com os engenhos de açúcar dominando
tudo. A pecuária começava a se expandir, ocupando mais espaços no Baixo São
Francisco e Agreste. Mas o Sertão começou a ser povoado e surgiu o algodão, o
chamado "ouro branco" que se adaptou a terra árida da caatinga, mas
que chovia na época certa. E foram surgindo povoações em toda aquela região,
atraída pela nova atividade agrícola.
Em
1857, o Barão de Jaraguá, homem de visão, empreendedor, que vivia em seu
palacete de Maceió, mas tinha várias propriedades agrícolas, observando o
avanço da atividade algodoeira, decidiu investir na primeira fábrica de
tecidos, escolhendo o povoado de Fernão Velho, a poucos quilômetros da capital
para dar início a uma atividade que perpetuou-se, expandiu-se em vários pontos
do Estado e tendo o algodão como matéria prima abundante, que foi se
aproximando do Agreste e zona da Mata.
Os
fazendeiros do Sertão e Agreste produziam cada vez mais e instalavam
descaroçadores de algodão, uma mini-fábrica da matéria prima principal, que
seguia ensacado para Fernão Velho e as novas fábricas que foram surgindo em
Maceió, Rio Largo, Pilar, São Miguel dos Campos e Penedo. Surgia assim a indústria urbana, as vilas
operárias e a geração de milhares de empregos. Não eram escravos negros que
trabalhavam nessas fábricas e sim, trabalhadores que recebiam casas com toda
infra-estrutura para sobreviver com suas famílias e salários dignos.
Em
Rio Largo, um povoado que surgiu a partir de um engenho de açúcar, às margens
do rio Mundaú, o comendador Tavares Bastos construiu suas duas fábricas de
tecidos, sustentando praticamente toda a população, seja direta ou
indiretamente, porque o comércio se expandiu. Construiu casas, escolas,
hospital, áreas de lazer e toda a infra=estrutura de uma verdadeira cidade
industrial. Sua filha Judith, casa com o jovem parabiano Gustavo Paiva, que
tornou-se o grande empreendedor de Rio Largo. A cidade nas décadas de 1930/40
virou o símbolo da modernidade. Tinha cinema, teatro, clubes sociais, escolas
de alto padrão e hospital.
Em
Pilar, o empresário Hilton Pimentel, construiu sua moderna fábrica de tecidos
que durou vários anos, transformando-se em cidade industrial, o mesmo ocorrendo
com nos Nogueira, em São Miguel dos Campos e no distrito de Saúde, em Maceió,
onde também funcionou por vários anos a Fábrica Alexandria, da família Lobo, no
bairro do Bom Parto. No alto Sertão, o cearense Delmiro Augusto da Cruz
Gouveia, instalou a sua fábrica de linhas e depois de tecidos, dando origem a
cidade que depois de sua morte recebeu seu nome, hoje uma das mais importantes
do interior alagoano e a Fábrica da Pedra que ele fundou no início do século
XX, hoje em poder do Grupo Carlos Lyra, a única do Estado, que mantem uma boa
produção de tecidos, inclusive para exportação.
Durante
vários anos Alagoas manteve mais de 10 fábricas de tecidos e dezenas de
fábricas de beneficiamento de algodão em Santana do Ipanema, Palmeira dos
Índios, Penedo, Paulo Jacinto, Viçosa, São José da Laje e outras cidades,
garantindo a matéria prima para as fábricas têxteis. Por mais de um século, o
setor foi o segundo mais importante da economia alagoana, perdendo apenas para
o açucareiro. Isso foi acabando a partir da década de 1970, com a falência das
fábricas e claro, a substituição da atividade algodoeira pela pecuária.
Fonte: Alagoas uma má notícia, Jair Pimentel - Livro-reportagem. <http://www.bairrosdemaceio.net/site/index.php?Canal=Removiveis&Id=27>.
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