segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O "ouro branco" chega ao Sertão!

Até a primeira metade do século XIX, Alagoas já como Província, a economia estava centralizada no Litoral e zona da Mata, com os engenhos de açúcar dominando tudo. A pecuária começava a se expandir, ocupando mais espaços no Baixo São Francisco e Agreste. Mas o Sertão começou a ser povoado e surgiu o algodão, o chamado "ouro branco" que se adaptou a terra árida da caatinga, mas que chovia na época certa. E foram surgindo povoações em toda aquela região, atraída pela nova atividade agrícola.
Em 1857, o Barão de Jaraguá, homem de visão, empreendedor, que vivia em seu palacete de Maceió, mas tinha várias propriedades agrícolas, observando o avanço da atividade algodoeira, decidiu investir na primeira fábrica de tecidos, escolhendo o povoado de Fernão Velho, a poucos quilômetros da capital para dar início a uma atividade que perpetuou-se, expandiu-se em vários pontos do Estado e tendo o algodão como matéria prima abundante, que foi se aproximando do Agreste e zona da Mata.
Os fazendeiros do Sertão e Agreste produziam cada vez mais e instalavam descaroçadores de algodão, uma mini-fábrica da matéria prima principal, que seguia ensacado para Fernão Velho e as novas fábricas que foram surgindo em Maceió, Rio Largo, Pilar, São Miguel dos Campos e Penedo.  Surgia assim a indústria urbana, as vilas operárias e a geração de milhares de empregos. Não eram escravos negros que trabalhavam nessas fábricas e sim, trabalhadores que recebiam casas com toda infra-estrutura para sobreviver com suas famílias e salários dignos.
Em Rio Largo, um povoado que surgiu a partir de um engenho de açúcar, às margens do rio Mundaú, o comendador Tavares Bastos construiu suas duas fábricas de tecidos, sustentando praticamente toda a população, seja direta ou indiretamente, porque o comércio se expandiu. Construiu casas, escolas, hospital, áreas de lazer e toda a infra=estrutura de uma verdadeira cidade industrial. Sua filha Judith, casa com o jovem parabiano Gustavo Paiva, que tornou-se o grande empreendedor de Rio Largo. A cidade nas décadas de 1930/40 virou o símbolo da modernidade. Tinha cinema, teatro, clubes sociais, escolas de alto padrão e hospital.
Em Pilar, o empresário Hilton Pimentel, construiu sua moderna fábrica de tecidos que durou vários anos, transformando-se em cidade industrial, o mesmo ocorrendo com nos Nogueira, em São Miguel dos Campos e no distrito de Saúde, em Maceió, onde também funcionou por vários anos a Fábrica Alexandria, da família Lobo, no bairro do Bom Parto. No alto Sertão, o cearense Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, instalou a sua fábrica de linhas e depois de tecidos, dando origem a cidade que depois de sua morte recebeu seu nome, hoje uma das mais importantes do interior alagoano e a Fábrica da Pedra que ele fundou no início do século XX, hoje em poder do Grupo Carlos Lyra, a única do Estado, que mantem uma boa produção de tecidos, inclusive para exportação. 

Durante vários anos Alagoas manteve mais de 10 fábricas de tecidos e dezenas de fábricas de beneficiamento de algodão em Santana do Ipanema, Palmeira dos Índios, Penedo, Paulo Jacinto, Viçosa, São José da Laje e outras cidades, garantindo a matéria prima para as fábricas têxteis. Por mais de um século, o setor foi o segundo mais importante da economia alagoana, perdendo apenas para o açucareiro. Isso foi acabando a partir da década de 1970, com a falência das fábricas e claro, a substituição da atividade algodoeira pela pecuária. 

Fonte: Alagoas uma má notícia, Jair Pimentel - Livro-reportagem. <http://www.bairrosdemaceio.net/site/index.php?Canal=Removiveis&Id=27>.  

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